sábado, 8 de novembro de 2014

EXCERTO LITERÁRIO




[...] Nessas horas lentas e vazias, sobe-me da alma à
 mente uma tristeza de todo o ser, a amargura de tudo 
ser ao mesmo tempo uma sensação minha e uma coisa 
externa, que não está em meu poder alterar. Ah, 
quantas vezes os meus próprios sonhos se me erguem
 em coisas, não para me substituírem a realidade,
 mas para se me confessarem seus pares em eu os
 não querer, em me surgirem de fora, como o
 elétrico que dá a volta na curva extrema da rua,
 ou a voz do apregoador noturno, de não sei que
 coisa, que se destaca, toada árabe, como um
 repuxo súbito, da monotonia do entardecer![...]

Bernardo Soares
Do Livro do Desassossego


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